A indetectabilidade do vírus HIV: uma análise crítica do discurso de uma campanha do governo federal brasileiro

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.14198/dissoc.19.2.9

Palabras clave:

Vírus HIV, indetectabilidade, intransmissibilidade, discurso biológico, discurso neoliberal, biopolítica

Resumen

Este artigo tem como objetivo analisar o discurso de uma campanha sobre hiv — intitulada Campanha Indetectável —, produzida pelo Ministério da Saúde (MS), e os discursos dos participantes desta campanha — que vivem com hiv e descobriram o diagnóstico recentemente. O estudo é realizado seguindo uma metodologia de pesquisa qualitativa e os dados são discutidos à luz da abordagem teórica-metodológica da Análise Crítica do Discurso e do conceito de biopolítica. Em linhas gerais, as análises mostram que tanto os produtores da campanha, como os participantes que vivem com HIV focam na indetectabilidade (e intransmissibilidade) do vírus para lidar com a epidemia do HIV/AIDS. Apesar dos desafios de ordem psicossocial encontrados nos discursos analisados, há regularidades nos discursos biológico e neoliberal, que sinalizam que esses desafios podem/devem ser resolvidos com a adesão ao tratamento medicamentoso e no âmbito individual e privado (com apoio da família, amigos etc.), fazendo, desse modo, com que pessoas que vivem com HIV sejam biopoliticamente governadas. Nesse sentido, aquelas pessoas que não se encaixam nos padrões sociais, políticos, culturais, comportamentais e psicológicos da biopolítica, demandados por elites simbólicas, são vistas como anormais e sinônimos de patológico e monstruoso em nossas sociedades, quando são deixadas para morrer, seja de forma simbólica ou material.

Financiación

Bolsa de pós-doutorado do CNPq (PDJ/CNPq).

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Publicado

23-05-2025

Cómo citar

Simões de Miranda, J. A. (2025). A indetectabilidade do vírus HIV: uma análise crítica do discurso de uma campanha do governo federal brasileiro. Discurso & Sociedad, 19(2), 429–452. https://doi.org/10.14198/dissoc.19.2.9

Número

Sección

Miscelánea