A indetectabilidade do vírus HIV: uma análise crítica do discurso de uma campanha do governo federal brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.14198/dissoc.19.2.9Palabras clave:
Vírus HIV, indetectabilidade, intransmissibilidade, discurso biológico, discurso neoliberal, biopolíticaResumen
Este artigo tem como objetivo analisar o discurso de uma campanha sobre hiv — intitulada Campanha Indetectável —, produzida pelo Ministério da Saúde (MS), e os discursos dos participantes desta campanha — que vivem com hiv e descobriram o diagnóstico recentemente. O estudo é realizado seguindo uma metodologia de pesquisa qualitativa e os dados são discutidos à luz da abordagem teórica-metodológica da Análise Crítica do Discurso e do conceito de biopolítica. Em linhas gerais, as análises mostram que tanto os produtores da campanha, como os participantes que vivem com HIV focam na indetectabilidade (e intransmissibilidade) do vírus para lidar com a epidemia do HIV/AIDS. Apesar dos desafios de ordem psicossocial encontrados nos discursos analisados, há regularidades nos discursos biológico e neoliberal, que sinalizam que esses desafios podem/devem ser resolvidos com a adesão ao tratamento medicamentoso e no âmbito individual e privado (com apoio da família, amigos etc.), fazendo, desse modo, com que pessoas que vivem com HIV sejam biopoliticamente governadas. Nesse sentido, aquelas pessoas que não se encaixam nos padrões sociais, políticos, culturais, comportamentais e psicológicos da biopolítica, demandados por elites simbólicas, são vistas como anormais e sinônimos de patológico e monstruoso em nossas sociedades, quando são deixadas para morrer, seja de forma simbólica ou material.
Financiación
Bolsa de pós-doutorado do CNPq (PDJ/CNPq).Citas
Anjos, F. D.; Fonseca, J. H. M.; Silva, J. K. O. (2018). Sentidos de jovens vivendo com HIV frente aos estigmas, preconceitos e vulnerabilidades em ambiente educacional. Revista Prática Docente. v. 3, n. 1, p. 279-294. https://doi.org/10.23926/RPD.2526-2149.2018.v3.n1.p279-294.id121
Araújo, L. F.; Carvalho, C. J. ; Oliveira, J. V.; Cordeiro, A. V. (2017). Concepções psicossociais acerca do conhecimento sobre a AIDS das pessoas que vivem com o HIV. Revista Colombiana de Psicología,26(2), 219-230. https://doi.org/10.15446/rcp.v26n2.59349
Atanázio, E. A. S. (2017). A mão que afaga é a mesma que apedreja: preconceitos e percepções de vulnerabilidades de profissionais de saúde frente às pessoas que vivem com hiv/aids. Tese de doutorado em Psicologia Social. UFPB: João Pessoa.
Brasil, M.S. (2019). Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde. NOTA INFORMATIVA Nº 5/2019-.DCCI/SVS/MS. Brasília (DF): Ministério da Saúde.
Brasil, M.S. (2021). Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis: Campanhas - Linha do tempo. Brasília (DF): Ministério da Saúde.
Brito, F. L. C. B.; Rosa, J. M. (2018). OS LEPROSOS DOS ANOS 80‖, -CÂNCER GAY‖, -CASTIGO DE DEUS‖: homossexualidade, AIDS e capturas sociais no Brasil dos anos 1980 e 1990. Revista Observatório, Palmas, v. 4, n.1, p. 751-778. https://doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2018v4n1p751
Cabanas, E.; Illouz, E. (2022). Happycracia: fabricando cidadãos felizes. Tradução Humberto do Amaral. São Paulo: Ubu Editora.
Caponi, S. (2014). Viver e deixar morrer: Biopolítica, risco e gestão das desigualdades Live and Let Die Biopolitics, risk management and inequalities. Revista Redbioética/Unesco, p. 27.
Caponi, S. (2001). Corpo, população e moralidade na história da medicina. Esboços: histórias em contextos globais, v. 9, n. 9, p. 69-86.
Chouliaraki, L. Fairclough, N. (1999). Discourse in late modernity: Rethinking critical discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press.
Fairclough, N. (2003). Analysing discourse: Textual analysis for social research. London: Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203697078
Fairclough, N. (2000). Language and Neoliberalism. London; Discourse and Society, nº 11, pp. 147-148. https://doi.org/10.1177/0957926500011002001
Fairclough, N. (1992). Discourse and social change. Oxford: Polity Press.
Fairclough, N. (1989). Language and power. London: Longman.
Foucault, M. (2020). História da sexualidade I: a vontade de saber. Trad. de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Albuquerque. 10. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra.
Foucault, M. (2014). A ordem do discurso: aula inaugural no collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. 24. edicão. São Paulo: Edições Loyola.
Foucault, M. (2010). Em defesa da sociedade - curso no Collège de France, 1975-1976. Trad. de Maria Ermantina Galvão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes.
Hyland, K.;Salager-Meyer, F. (2008). Science writing. In Cronin, B. (ed) Annual Review of Information Science and Technology. Vol 42: 297-338. https://doi.org/10.1002/aris.2008.1440420114
Lemke, T. (2011). Biopolitics: An Advanced Introduction. Translated by Eric Frederick Trump. New York: New York University Press.
Lopes, P. O. (2021). HIV e AIDS, passado e presente: os gays como representação social da doença. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 7, n.5, p. 50122-50134. https://doi.org/10.34117/bjdv.v7i5.30028
Pelton, M.; Ciarletta, M. Wisnousky, H; et al. (2021). Rates and risk factors for suicidal ideation, suicide attempts and suicide deaths in persons with HIV: a systematic review and meta-analysis. General Psychiatry. https://doi.org/10.1136/gpsych-2020-100247
Sontag, S. (2001). Ilness as Metaphor and AIDS as Its Metaphors. Picador. USA. First edition.
Van Dijk, T. A. (2020). Discurso e Poder. Judith Hoffnagel, Karina Falcone, organização. - 2. Ed. 5ª reimpressão.- São Paulo: Contexto.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 José Augusto Simões de Miranda

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-CompartirIgual 4.0.