Interações Discursivas em Sala de Aula: posicionamentos de estudantes de licenciatura em Biologia sobre a política de cotas raciais no ensino superior brasileiro

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.14198/dissoc.14.2.9

Palabras clave:

Discurso, cotas raciais, estudantes, licenciatura

Resumen

O presente trabalho teve como objetivo analisar, no contexto das interações discursivas, como estudantes de licenciatura em Biologia opinam sobre as cotas raciais para a inserção da população negra e indígena no ensino superior brasileiro. Para tanto, realizamos a gravação em vídeo e em áudio de uma aula de quatro horas, na qual a professora promoveu uma discussão sobre o mito da democracia racial no Brasil e as ações afirmativas. Posteriormente, transcrevemos quatro episódios de interação discursiva dessa aula para serem analisados. A análise dos dados foi realizada em uma abordagem sociocognitiva do discurso, que se baseia na premissa de que textos não possuem significados próprios, mas, sim, atribuídos por meio dos processos sociocognitivos daqueles que usam a linguagem. Os resultados da pesquisa indicam duas atitudes polarizadas entre os/as participantes, que se associam a atitudes igualmente presentes na sociedade brasileira: por um lado, a de aceitação da política de cotas como meio de reparação de uma dívida histórica; e, por outro, a negação dessa política, com os argumentos de que, além de não ser viável, estaria promovendo segregação entre os grupos étnicos. O processo de formação de professores de Biologia, no contexto do qual foi desenvolvida a pesquisa, pautou-se em uma perspectiva crítica, por meio de debates de temas socioculturais, como as políticas de ações afirmativas, o que contribuiu para que os/as futuros/as professores/as construíssem discursos críticos sobre as ações afirmativas e as políticas sociais, que promovam a superação do sistema de desigualdade, tanto social, quanto racial, que caracteriza o nosso país.

Financiación

Para a realização desta pesquisa, as autoras agradecem o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Processo 88881.189226/2018-01.

Citas

Bergmann, B. (1996). In defense of affirmative action. New York: BasicBooks. https://doi.org/10.2307/40251560

Calsamiglia, H. y Tusón, A. (2007). Las cosas del decir: Manual de análisis del discurso. 3. ed. Barcelona: Ariel Letras.

Brasil. (2012). Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012: Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Brasília.

Canen, A.; Xavier, G. de M. (2011). Formação continuada de professores para a diversidade cultural: Ênfases, silêncios e perspectivas. Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 48, p. 641-813. https://doi.org/10.1590/S1413-24782011000300007

Conrado, D. M.; Conrado, I. S. (2016). Análise crítica do discurso sobre imagens da ciência e da tecnologia em argumentos de estudantes de biologia. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 4, n. 5, p. 218-231.

Fairclough, N. (2003). Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203697078

Felipe, D. A. (2014). Páginas negras: Discurso sobre as cotas raciais nas revistas Veja e Época. In: IX Encontro de Produção Científica e Tecnológica. Anais. p. 1-12.

Frazão, T. C. J. (2007). Análise crítica do discurso jornalístico sobre a implantação do sistema de cotas em universidades públicas brasileiras. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem). Universidade Católica de Pernambuco.

Gill, R. (2000). Discourse Analysis. In: Bauer, M.; Gaskell, G. (Eds.). Qualitative Researching with Text, Image and Sound. London: Sage. p. 172-190. https://doi.org/10.4135/9781849209731.n10

Marcon, F. (2010). Distorções sociais no acesso ao ensino público superior e os fundamentos da proposta de ações afirmativas da UFS. In: Frank, M.; Passos Subrinho, J. M. dos (Orgs.) Ações afirmativas e políticas inclusivas no ensino público superior: a experiência da Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão: Editora UFS. p. 37-56.

Moreira, A. F. B.; Candau, V. M. (2003). Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, n. 23, p. 156-167. https://doi.org/10.1590/S1413-24782003000200012

França Neto, J. I. de; Sousa, F. F. de. (2012). Afirmação das cotas raciais nas universidades e o discurso naturalizado do preconceito: Uma análise do gênero discursivo jurídico. In: Jornada Nacional do Grupo de estudos Linguísticos do Nordeste. Anais. p. 1-11.

Neves, P. S. C. (2013). A política de reserva de vagas da Universidade Federal de Sergipe para alunos de escolas públicas e não brancos: uma avaliação preliminar. In: Santos, J. T. dos (Org.). O impacto das cotas nas universidades brasileiras (2004-2012). Salvador: CEAO. 280 p.

Kaplan, N. (2004). Nuevos desarrollos en el estudio de la evaluación en el lenguaje: La Teoría de la Valoración. Boletín de Lingüística, n. 22, p. 52-78.

Pinheiro, N. F. (2010). Cotas na UFBA: Percepções sobre racismo, antirracismo, identidades e fronteiras. Dissertação (Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia.

Quadros, D. F. M. de; Jovino, I. da S. (2016). Discurso e poder: Análise das disputas acerca das ações afirmativas na UEPG. In: IV Encontro rede sul letras. Anais. p. 267-282.

Ramalho, I. da S.; Resende, V. de M. (2018). O caso Edvan Lima e a corporeidade de pessoas em situação de rua em casos de violência: Análise de dados do jornal Correio web. Cadernos de Estudos Linguísticos Campinas, v. 60, n. 3, p. 1-20. https://doi.org/10.20396/cel.v60i3.8652150

Resende, V. M. (2008). Análise de discurso crítica e etnografia: o movimento nacional de meninos e meninas de rua, sua crise e o protagonismo juvenil. 2008. 332f. Tese (Doutorado). Doutorado em Linguística, Universidade de Brasília, Brasília.

Resende, V. de M. (2017). Análise de discurso crítica: reflexões teóricas e epistemológicas quase excessivas de uma analista obstinada. In: Resende, V. de M.; Regis, J. F. da S. (Orgs.). Outras perspectivas em análise de discurso crítica. São Paulo: Pontes editores. Cap. 1. p. 11-52.

Resende, V. de M. Acosta, M. del P. T. (2018). Apropriação da análise de discurso crítica em uma discussão sobre comunicação social. Revista de Estudos da Linguagem, v. 26, n. 1, p. 421-454. https://doi.org/10.17851/2237-2083.26.1.421-454

Richardson, K. (2000). Intertextuality and the discursive construction of knowledge: the case of economic understanding. In: Meinhof, U. H.; Smith, J. (Eds). Intertextuality and the media. From genre to everyday life. Oxford: Manchester University Press. p. 76-97.

Santos, C. V. A. dos. (2014). Discurso em plenário: A construção do ethos sob a luz das Ações afirmativas. Revista Nupex em Educação, v. 1, n. 1, p. 1-28.

Valentim, D. F. D.; Candau, V. M. (2012). Ex-alunos negros cotistas da UERJ: os desacreditados e o sucesso acadêmico. Rio de Janeiro. 234p. Tese (Doutorado). Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Van Dijk, T. A. (1981). Episodes as units of discourse analysis. In: Tannen, D. (Ed.). Analyzing discourse: text and talk. Georgetown: Georgetown University Press. p. 177-195.

Van Dijk, T. A. (1991). The interdisciplinary study of news as discourse. In: Bruhn-Jensen, K.; Jankowksi, N. (Eds.). Handbook of qualitative methods in mass communication research. London: Routledge. p. 108-120.

Van Dijk, T. A. (2008). Discurso e poder. Falcone, K.; Hoffnagel, J. (Orgs.). São Paulo: Contexto.

Van Dijk, T. A. (2012). A Note on epistemics and discourse analysis. British Journal of Social Psychology. Special Issue "Twenty-five years of discursive psychology", v. 51, p. 478-485. https://doi.org/10.1111/j.2044-8309.2011.02044.x

Van Dijk, T. A. (2015). Critical discourse studies: A sociocognitive approach (new version). In: Wodak, R.; Meyer, M. (Eds.). Methods of critical discourse analysis. Third Edition. London: Sage. p. 63-85.

Van Dijk, T. A. (2016a). Sociocognitive discourse studies. In: Richardson, J.; Flowerdew, J. (Eds.). Handbook of discourse analysis. London: Routledge. p. 1-26. https://doi.org/10.4324/9781315739342-3

Van Dijk, T. A. (2016b). Discurso-cognição-sociedade: estado atual e perspectivas da abordagem sociocognitiva do discurso. Trad. Pedro Theobald. Revista Digital do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS, v. 9, n. especial, s8-s29. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2016.s.23189

Van Dijk, T. A. (2016c). Discurso y conocimiento - una aproximación sociocognitiva. Trad. Flávia Limone Reina. Barcelona: Editorial Gedisa.

Publicado

30-06-2020

Cómo citar

Santos Correia Rosa, I., & Oliveira de Almeida, R. (2020). Interações Discursivas em Sala de Aula: posicionamentos de estudantes de licenciatura em Biologia sobre a política de cotas raciais no ensino superior brasileiro. Discurso & Sociedad, 14(2), 443–472. https://doi.org/10.14198/dissoc.14.2.9

Número

Sección

Miscelánea