Ódio como projeto: emoções, discurso e poder
DOI:
https://doi.org/10.14198/hexis.29991Palabras clave:
discurso, discurso de ódio, emoção, medo, ódio, retórica, violência simbólicaResumen
Nas últimas décadas, as emoções consolidaram-se como objeto de estudo legítimo e privilegiado não apenas nas ciências humanas e sociais, mas também na linguística. Esse campo de estudos interdisciplinar — marcado por convergências e disputas — reúne diversas abordagens teóricas. Embora essas perspectivas tenham fundamentos distintos e, por vezes, contraditórios, sua própria variedade demonstra o crescente interesse multidisciplinar pelo tema. Neste artigo, partimos dessa heterogeneidade teórica para analisar o ódio e seus mecanismos de construção discursiva, considerando o cenário atual de polarização e ascensão de ideologias radicais. Para isso, examinamos, a partir de uma abordagem qualitativo-interpretativa, dois eventos ocorridos recentemente no Brasil, amplamente divulgados na mídia e nas redes sociais, os quais servem de corpus de apoio à reflexão empreendida. Ambos os casos ilustram como o ódio pode, indiretamente, atender a um amplo projeto de poder. O objetivo não é esgotar as análises possíveis, mas contribuir para a discussão sobre a relação entre emoções e discurso de ódio, tendo em vista as contribuições teóricas de Butler (2021) e Bailly e Moïse (2021). A investigação baseiase na Análise do Discurso, especialmente, na argumentação no discurso (Amossy, 2010), e nos estudos sobre retórica e argumentação (Meyer, 2008) e emoção (Ogien, 1993; Plantin, 2011; Micheli, 2014). Partimos do princípio de que o discurso de ódio estigmatiza, discrimina e violenta, em função do pertencimento a um grupo étnico, social, religioso etc. Esse discurso não apenas incita o medo e a violência — tanto física quanto simbólica — como também promove a desumanização e a reprodução de estruturas opressivas. Seu objetivo primordial é o silenciamento dos grupos que vitimiza.
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